Sãtya-siddhi-shãstra
Capítulo 152- A respeito da verdade mundana.
Resposta: por diversas razões você afirma que todos os dharmas são vazios, mas este sentido está incorreto. Por que razão? Conforme foi dito anteriormente, se tudo for inexistente então esta teoria também é inexistente. Ou ainda, esta asserção não se refere á existência dos dharmas. Desta forma, sua refutação através do vazio não possui um caráter conclusivo. Em função disto, a afirmação do vazio não implica na inexistência dos dharmas. Ou ainda, sua asserção a respeito da inexistência das bases e dos objetos não consiste naquilo que é por nós esclarecido. Por que razão? Os Sutras budistas se referem diretamente a isto através dos cinco inconcebíveis. Os inconcebíveis da existência mundana, dos seres sensíveis, das causas e condições cármicas, das pessoas absortas em meditação e dos Buddhas. Estes fatores não podem ser conhecidos através do discernimento dos Sábios, apenas os Buddhas possuem a capacidade de discernir e conhecer a estes dharmas. Os Sravakas (ouvintes) e os Pratiekka Buddhas (Buddhas solitários) possuem apenas a sabedoria que conduz á realização do Nirvana. Eles realizam apenas uma pequena parte da sabedoria do discernimento dos dharmas. Os Buddhas conhecem todas as modalidades dos dharmas em sua origem e fim, e em sua natureza tanto comum quanto não comum. Estas são todas sabedorias em que é difícil se estabelecer, que são facilmente perdidas e de difícil realização. A sabedoria do vazio é uma modalidade de fácil realização, a sabedoria que discerne a todos os dharmas é de difícil realização.
Pergunta: as características dos dharmas realizadas pelo Buddha em seu assento devem corresponder a isto.
Resposta: mesmo que o Buddha ensine a todos os dharmas, ele não os ensina em todas as suas modalidades na medida em que estas não são conducentes á realização. Da mesma forma com que o Buddha ensina que todos os dharmas surgem através de causas e condições, isto não implica que ele ensine detalhadamente a cada uma de suas modalidades, ele ensina apenas aquelas que dizem respeito á extinção do sofrimento. Ele não ensina de forma detalhada a respeito das nuances das cores e dos sons, das inumeráveis distinções entre os
cheiros e os sabores. Como mesmo que sejam ensinados eles não tem relação com o benefício supramundano, ele não ensina estes aspectos. Ou ainda, ele não instrui as pessoas a respeito dos detalhes dos dharmas. E é da mesma forma a seu respeito, não existe necessidade de ensinar a este respeito. Esta necessidade aplica-se aos Sábios e não aos ignorantes. É da mesma forma com que uma pessoa com a visão impedida não pode falar a respeito do branco e do preto, como ela não os pode ver, não pode falar a seu respeito. Isto diz respeito a todas as formas. Podemos dizer que os dharmas não existem por não possuirmos as condições de conhece-los. Devemos assim confiar nos Buddhas venerados pelo mundo que conhecem a todos estes fatores. Como o Buddha ensinou a existência dos cinco agregados podemos saber que existem dharmas como a forma. Eles existem através da verdade mundana da mesma forma que um pote.
Traduzido por: Prof. Dr. Joaquim Monteiro
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