Sãtya-siddhi-shãstra
Capítulo 144: a refutação da diferença.
Pergunta: que equívoco existe na teoria da diferença?
Resposta: novamente, não existe uma terra separada de dharmas como a forma. Como podemos saber disto? Não é possível o surgimento de uma mente da terra separada da forma, do olfato, do sabor e do contato. A mente surge apenas em sua relação com dharmas como a forma. Por que razão? Seria como o surgimento de um som distinto da forma e que não esperasse pelo surgimento do som. Se a terra existisse independentemente de fatores como a forma, ainda deveria ser possível o surgimento da terra sem esperar pela forma. Mas na verdade eles não podem deixar de esperar. Em função disto, a terra não pode existir como uma entidade separada.
Pergunta: não existe isto de não esperar pelos demais dharmas. A mente da forma surge esperando pelas características da forma.
Resposta: isto já foi explanado no Capitulo sobre o desfazer das características do genérico.
(Capítulo inexistente) Não existe uma característica da forma distinta da própria forma. Em função disto, esta asserção é improcedente. Ou ainda, dharmas como a terra diferem daquilo que pode ser conhecido por não possuírem raízes. Em função disto, podemos saber que não existe a terra como um fator distinto.
Pergunta: fatores como a terra podem ser captados através de duas bases: a base táctil e a base visual podem conhece-la. A base visual pode saber se se trata de um pote, através do contato táctil também é possível saber que se trata de um pote. Em função disto, é inconsistente sua asserção de que não existem bases capazes de captar a terra.
Resposta: se fosse desta forma, na captação de um pote através de quatro bases seria a mesma coisa cheirar a lama com o nariz e lambe-la com a língua.
Pergunta: a base olfativa e a base gustativa não podem captar o pote. Por que razão? Não é possível discernir em meio á escuridão. Podemos cheirar a um pote ou a uma garrafa, ou lamber um pote ou uma garrafa.
Resposta: mesmo que não seja possível distinguir um pote de uma garrafa, é possível suscitar o conhecimento da lama ao lamber ou a cheirar a lama. Ou ainda, é como lamber um pote enterrado, você não tem como saber que sabor ele possui, ou ainda como saber se um objeto é um pote ou algum outro apenas através da visão ou do olfato. Em função disto podemos saber que as bases da visão e do corpo não são capazes de captar a um pote. Ou ainda, as bases do olfato e do paladar podem captar as características de flores, frutos, leite ou coalhada, mas as bases do tato e da visão não podem faze-lo. Mesmo que se diga que podemos ver objetos como as flores, não podemos discernir seu cheiro, seu sabor, sua beleza
ou feiura. Em função disto, caso as bases visuais ou tácteis tentarem conhecer as
características, as bases olfativas e gustativas não serão capazes de o fazer. É da mesma forma com que estas bases gustativas e olfativas não podem captar algo distinto das características sem que ainda tenha aparecido o discernimento. Ou ainda, não é possível ocorrer a captação do conhecimento do nominal através das cinco bases. Em função disto, o nominal não pode ser captado através das bases visuais, tácteis, olfativas ou gustativas. É somente o conhecimento derivado da sexta consciência que pode conhecer o nominal. Por que razão?
Porque esta consciência pode ter a todos os dharmas como o seu objeto. Ou ainda, a base visual tem a capacidade de ver a forma, mas não é capaz de ver a não forma. Caso pudesse, ela deveria captar os sons. Caso fosse desta forma, ela deveria atuar como a base auditiva, mas este não é o caso. Em função disto, as bases visuais e tácteis não podem captar as características.
Pergunta: a compreensão das características através da forma pode conhecer estas mesmas características. Ou seja, a visão possui a capacidade de ver, tudo aquilo que difere dos dharmas da forma pode ser por ela visto.
Resposta: não é possível compreender um pote através da forma. Por que razão? Aquele que fez o pote limita-se apenas a uma combinação de formas. Em função disto, um pote não está incluído no conhecimento da forma. Ou ainda, a tentativa de compreender os demais dharmas através dos dharmas visíveis deveria conduzir a esta visão, mas não é possível compreender os dharmas visíveis através de um pote. A forma não seria visível neste caso. Ou ainda, neste caso
deveriam existir duas modalidades de potes: aqueles que são claramente visíveis e aqueles que não são claramente visíveis. Sua visibilidade ou não visibilidade dependeria da modalidade de compreensão. A forma também poderia não ser visível. As características da forma não seriam cognoscíveis através da base visual. Por que razão? Você afirma que este dharma se baseia nas características da forma, as características da forma que podem ser conhecidas não são características. No entanto, as características da forma não podem ser visíveis. Esta asserção não possui consistência. Ou ainda, se formos compreender o visível através da forma, todas as bases deveriam conhecer as suas características, a base auditiva também deveria conhecer o espaço por ser ele passível de ser ouvido. Ou ainda, deveria ser possível conhecer as características do vento através de uma compreensão derivada da base táctil. No entanto, o seu ensinamento não é desta forma. Em função disto, não é possível conhecer a estes
dharmas.
Pergunta: não seria o caso de dizer que não seria possível conhecer os demais dharmas, mas apenas os dharmas da forma?
Resposta: não é desta maneira. Nestas causas e condições só está incluída a forma, não é possível uma referência aos demais dharmas. É como você se referisse a uma característica, a forma poderia ser visível neste contexto. Neste sentido, é possível captar a forma através da própria forma. A forma precisaria ser conhecida através de sua característica. Não se trataria de conhecer pura e simplesmente a forma. Esta teoria não se distancia dos equívocos das teorias anteriores. Ou ainda, um dharma mental surge em um instante distinto, em outro
instante surge a cognição do pote. Em função disto, que sentido faz compreender o pote através da forma? Ou ainda, uma pessoa de visão impedida poderia conhecer as características do pote. Mesmo perdendo a base visual ela poderia conhece-lo através do contato. Em função disto, é apenas em função da captação da forma que pode surgir o conhecimento. Ou ainda é ensinado em seu Sutra que o contato se estabeleceria através do corpo e não na terra, na água ou no fogo. Devemos saber que não é possível conhecer a característica do fogo, mas isto
também seria inconsistente. Por que razão? No momento em que uma pessoa de visão impedida conhece o fogo, ela não sabe se este contato é ou não visível. Ou ainda, no momento em que a visão conhece a quantidade dos dharmas, não existe aí um conhecimento da forma.
Não é possível ainda o olfato conhecer algo que não seja um dharma olfativo, da mesma forma com que não é possível lamber algo que não seja um dharma gustativo. Neste sentido, poderíamos saber que é possível conhecer as características, mas esta asserção é improcedente.
Pergunta: se a compreensão da forma não se deve á visão, como seria possível calcular os dharmas e não ver a característica em meio a eventos como o fogo?
Resposta: em meu ensinamento não existem dharmas separados de fatores como a forma e que possam ser visíveis. Em função disto podemos saber que é em função do discernimento dos dharmas da forma que se torna possível a visão e que é em função da visão da forma que surge o conceito de um pote. Como a forma não surge entre os dharmas, mesmo que exista a base visual não podem aparecer noções como a de pote. Assim sendo, é irracional pressupor
um pote sem distingui-lo da forma.
Traduzido por: Prof. Dr. Joaquim Monteiro
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