Sãtya-143-B
Capítulo 143- A refutação da identidade.
Pergunta: que equívocos existem nestas quatro teorias?
Resposta: o equívoco de uma delas é supor que seja possível existir o pote enquanto unidade, mesmo supondo a existência de distinções nas características de dharmas como a forma. Ou ainda, a forma não pode ser chamada de terra em cada um de seus aspectos. Como pode então sua combinação ser chamada de terra? Por que razão? Se um cavalo não pode ser uma vaca, de que forma uma combinação de cavalos poderia se constituir como uma vaca?
Pergunta: cada parte de um vegetal não pode se constituir como um vegetal independente. Desta mesma maneira, cada aspecto da terra não pode se constituir como a terra?
Resposta: não é desta forma. Por que razão? O conjunto dos vegetais se constitui como uma existência nominal. A unidade é aqui discutida em sua relação com dharmas efetivamente existentes. Como é possível empregar este exemplo? Ou ainda, a forma, o olfato, o sabor e o contato são quatro dharmas, a terra é um único dharma, estes quatro não podem se constituir como um. Se for possível fazer com que estes quatro se tornem em um, este um deve se tornar quatro: isto é impossível. Em função disto podemos saber que a forma não equivale à terra. Ou ainda, na dimensão mundana se fala na terra enquanto forma, enquanto olfato,
enquanto sabor e enquanto tato. Não se pode falar aí da terra enquanto visão do dharma da terra. Ela é apontada através das características de um dharma distinto. Isto é como uma referência a pessoas no geral.
Pergunta: isto não implica em apontar através das características de um dharma distinto. Ela indica através deste mesmo dharma. É como uma referência ás mãos e aos pés de uma pessoa de pedra. Por que razão? Não existe uma pessoa de pedra separada de seus pés e de suas mãos. É possível dizer desta maneira que se trata da terra mesmo que ela não esteja separada da forma. Ou ainda, é possível apontar a partir de suas características próprias. Que equívoco pode existir aqui?
Resposta: se formos falar da terra através da forma, esta lógica não possui consistência. Você emprega o exemplo de uma pessoa de pedra, mas este exemplo é improcedente. Por que razão? No momento em que apontamos para as mãos de uma pessoa de pedra, esta pessoa de pedra consiste na totalidade de seu corpo. Ou ainda, é possível dizer que ela existe em meio ao espaço. No momento em que nos referimos a esta pessoa de pedra, ela não implica neste
momento na totalidade de seu corpo. Se formos falar a este respeito, o Buddha dizia que existem fatores como o cabelo, a pele, o sangue e a carne em meio a este corpo, não existindo um corpo separado destes fatores. Só podemos nos basear em fatores como o cabelo. Se formos falar a partir de uma outra base, podemos saber que falar desta pessoa de pedra se constitui como um discurso equivocado. Caso você esteja se referindo á terra em função de uma pessoa de pedra, não existe aí uma terra que possa servir como referencial. Você diz que
nos Sutras se ensina que a forma, o sabor, o odor e o contato são a terra. Como esta terra não é um corpo, torna-se possível saber que a forma, o sabor, o odor e o contato não são a terra. Ou ainda, não é possível apontar para as características da forma como possuindo cheiro, só é possível dizer que a terra é um aspecto da forma. Como existem o sabor, o olfato e o contato sabemos que ela não é homogênea. Ou ainda, as mentes associadas á forma são todas distintas. Em função disto podemos saber que a forma não é a terra. Ou podemos ainda saber
que a forma possui diversos nomes distintos.
Pergunta: as diferenças entre as mentes e os nomes são todas diferenças em meio ás suas conjunções.
Resposta: se as mentes existissem apenas em conjunção com os nomes, a cognição possuiria apenas um caráter convencional. No entanto, a terra existe apenas de forma nominal, não existindo aí uma lógica. Ou ainda, a terra é conhecida através de todas as bases. Como é possível saber disto? As pessoas pensam que ao verem a terra elas tocam em seu cheiro, em seu sabor ou em seu tato. Se a forma, o olfato, o sabor e o tato fossem a terra, não seria possível surgirem os conceitos ou a visão do ãtman a partir dela. E é da mesma forma no que diz respeito ao olfato. Como o conceito de terra surge efetivamente a partir da forma, podemos saber que a forma não é a terra. Ela surge através das causas e condições das convenções linguísticas. É possível falar de seus aspectos através de convenções linguísticas.
Ao cortar uma árvore uma pessoa pode dizer que está cortando uma árvore e pode dizer que corta uma árvore ou que está cortando uma floresta. Ou ainda, como todas as características se dão em termos de causas e condições, elas não se constituem como um único ponto de vista. Ou ainda, um Bhikku de outra escola (Samkhya?) pode afirmar que as cinco características (Guna) são a terra. Isto ainda é improcedente. Por que razão? Conforme já foi ensinado anteriormente, o som se separa da forma se extinguindo e surgindo novamente em cada instante de consciência, ele não surge a partir dos quatro elementos. Em função disto podemos saber que a totalidade dos quatro elementos não se esgota no som.
Traduzido por Prof. Dr. Joaquim Monteiro
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