Pergunta: você referiu-se anteriormente á extinção das três mentes denominando-a da Verdade da extinção. Já nos foi dado saber a respeito das causas e condições da extinção da Mente nominal. Gostaria agora de saber a respeito da Mente do dharma e de como ela deve ser extinta.
Resposta: a Mente do dharma é a mente que pressupõe a existência efetiva dos cinco agregados. Se for desenvolvido o cultivo da sabedoria do vazio conduzindo á visão do vazio dos cinco agregados se extingue a Mente do dharma.
Pergunta: o praticante ao discernir o vazio dos cinco agregados afirma que não existe um dharma permanente, um dharma estabelecido, um dharma incorruptível, um dharma imutável ou um dharma como o ãtman ou como a característica de um ãtman em meio aos cinco agregados. É a inexistência destes dharmas que é chamada de vazio, isto não implica que ele não realize a visão dos cinco agregados.
Resposta: novamente, o praticante não realiza a visão dos cinco agregados. Por que razão? O praticante elimina as mentes dos objetos condicionados, realizando a mente dos objetos incondicionados. Em função disto, o praticante não realiza a visão dos cinco agregados. Ele realiza apenas a visão da extinção dos cinco agregados. Ou ainda, se ele realizar a visão dos cinco agregados, esta visão não é chamada de vazio por não serem vazios estes cinco agregados. Esta sabedoria do vazio não implica em sua realização.
Pergunta: o praticante realiza a visão da forma e como nela não existe um ãtman, ela á vazia. Conforme é ensinado no Sutra, este praticante realiza a visão do vazio desde a forma até a consciência. Devemos saber assim que dharmas como a forma não são inexistentes.
Resposta: existe esta asserção, mas ela não é pura. Conforme é ensinado no Sutra sobre os selos do dharma, a visão do praticante a respeito das características da impermanência, da dissolução e do afastamento em relação a fatores como a forma é ainda chamada de vazio. No entanto, esta visão ainda não é pura. Ao realizar posteriormente a visão da extinção dos cinco agregados, este discernimento se torna puro. Assim sendo, sabemos que ele realiza a visão da extinção dos cinco agregados.
Pergunta: por que razão a sabedoria que tem aos dharmas condicionados por seu objeto não realiza a pureza?
Resposta: em um dado momento, o praticante suscita as características dos cinco agregados. Em função disto, surge novamente a Mente nominal. Em função disto, a mente que tem por seu objeto os dharmas condicionados não realiza a pureza. Se ela realizar a extinção dos cinco agregados, estes cinco agregados não voltam a surgir na medida em que estão extintas as causas e condições que constituem o nominal. Esta visão não é acompanhada pelas características do nominal. É como o exemplo de uma árvore. Caso ela seja cortada ou reduzida a cinzas através do fogo, se retira sua imagem e ela não torna a aparecer. É desta mesma forma. Ou ainda, o Buddha se dirige a Nanda dizendo: se você despedaçar os seres sensíveis, eles não voltarão a surgir. Ou ainda se ensina em um Sutra: Nanda, se você despedaçar desde a forma até á consciência, elas não voltarão a se fazer presentes. Em função disto podemos saber que caso refute os seres sensíveis é chamado de vazio nominal, que caso refute fatores como a forma é chamado de vazio dos dharmas. Ou ainda, existem duas modalidades de discernimento que são o discernimento do vazio de ãtman e o discernimento do vazio dos dharmas. O discernimento do vazio de ãtman não vê os seres sensíveis nominais. É da mesma forma com que uma pessoa não vê um pote e saber que ele é vazio por não conter água, da mesma forma, como não existe um ãtman em meio aos cinco agregados, este ãtman é vazio. Caso os dharmas não possam ser objetos de contemplação eles são vazios. Ou ainda é ensinado nos Sutras, a realização do vazio do ãtman equivale á correta emancipação, em função disto sabemos que a natureza da forma está sujeita á extinção, que a natureza da sensação, da identificação, dos impulsos volitivos e da consciência está sujeita á extinção. A isto chamamos de vazio dos dharmas. O vazio dos dharmas implica na inexistência de uma natureza.
Pergunta: se o vazio dos dharmas implica na inexistência de uma natureza, a existência efetiva dos agregados é agora anulada.
Resposta: os cinco agregados não possuem uma existência efetiva, eles existem em função da verdade mundana. Por que razão? O Buddha ensina que as diversas formações são como uma ilusão ou aparição. Elas são reais em função da verdade mundana, mas não se constituem como existências efetivas. Ou ainda, se ensina nos Sutras a respeito do vazio supremo. É em função deste princípio que a forma é vazia e sem características próprias. Ou que os dharmas como a consciência não possuem caraterísticas próprias. Em função disto, se alguém discernir o vazio dos dharmas como a forma a isto se chama a visão do vazio supremo.
Pergunta: se os cinco agregados existem em função da verdade mundana, por que razão se ensina que dharmas como a forma consistem na verdade última?
Resposta: isto é ensinado em benefício dos seres sensíveis. Se alguém suscitar a percepção de uma existência efetiva em meio aos cinco agregados, se ensina que sendo os agregados a verdade última eles se constituem como o próprio vazio.
Pergunta: não se ensina nos Sutras que existe o carma e seus frutos, mas que apenas o agente é incognoscível?
Resposta: o caráter incognoscível do agente é ensinado em função dos dharmas. Este é um ensinamento ligado ao vazio do nominal. É da mesma forma com que se ensina nos Sutras, os dharmas são existências puramente nominais, o nominal implica em que em função das causas e condições da ignorância existe a insatisfatoriedade, a origem e a extinção das diversas formações até a velhice e a morte. É em função destas palavras que sabemos que em função dos cinco agregados são vazios em sua relação com a verdade última. Ou ainda se ensina no Sutra do grande vazio: se alguém se referir á velhice e á morte e esta velhice e morte implicarem na existência de um ãtman e se ensinar que este ãtman e o corpo são distintos, estas palavras possuem o mesmo sentido. Aquele que possuir esta visão não é meu discípulo, não é um puro praticante do caminho. Se ele se envolve com o nascimento e morte rompendo com o nominal, este nascimento e morte refuta os cinco agregados. Ou ainda, o nascimento como a condição da velhice e da morte se constitui como o caminho do meio. Devemos então saber que se ensina a inexistência do nascimento e da morte a partir da verdade última e que é em função da verdade mundana que se ensina que o nascimento é a condição da velhice e da morte. Ou ainda, seria um equívoco a respeito do pote dizer que ele não existe em função da verdade última, seria um equívoco dizer que dharmas como a forma não existem por serem vazios em sua relação com a verdade última. Ou ainda se ensina nos Sutras: se os dharmas forem um erro e uma ilusão, se eles não forem um erro eles serão uma existência efetiva. Como todos os dharmas condicionados estão sujeitos á mudança, eles são um erro, como são um erro são ilusórios, como são ilusórios eles não se constituem como uma existência efetiva.
Conforme é dito nos versos:
“A existência mundana parece possuir uma característica definida em sua falsidade,
Em sua verdade a visão do nada assemelha-se á existência,
Caso contemplada a fundo revela-se como o nada em sua totalidade.”
Devemos então saber que os agregados são vazios. Ou ainda, como implica na visão da Verdade da extinção se ensina que se trata da realização do caminho. Em função disto o conhecimento da extinção é a verdade suprema não consistindo nos agregados. Se os agregados fossem existências efetivas as formações volitivas deveriam ser vistas como realização do caminho, mas este não é o caso. Em função disto, sabemos que os cinco agregados não se constituem como uma existência suprema. Ou ainda, a existência suprema consiste na extinção dos agregados. Assim sendo, sabemos que os agregados não são uma existência efetiva, não é possível dizer que eles existam efetivamente. O nada dos agregados é uma existência efetiva. Ou ainda, todos os dharmas enquanto objeto de uma visão se constituem na ignorância. Da mesma forma com que não existe equívoco na visão de uma pessoa, não é possível ver a uma miragem. Desta forma, se não existisse a ignorância não seria possível a visão dos agregados. Em função disto, os agregados não se constituem como uma existência suprema. Ou ainda se ensina nos Sutras: o movimento existe em função da existência do ãtman, existindo um ãtman em meio aos agregados. Da forma como é ensinada por Ananda, em função dos dharmas surge o ãtman, é em função dos agregados desde a forma até a consciência que isto pode ser dito. Ou ainda, os Veneráveis interrogam a um Bhikku: a que você está se referindo quando fala de um ãtman? O Bhikku responde: eu não ensino que a forma é um ãtman, eu não ensino que existe um ãtman separado da forma, e é da mesma maneira no que diz respeito á consciência. Existe apenas uma arrogância do ãtman em meio aos agregados que ainda não foi extirpada. Como o sentido deste Sutra implica em que no momento em que os praticantes estão com a mente dispersa e confusa surge a arrogância do ãtman. Caso esta mente esteja focada na visão da extinção dos cinco agregados, é extinta esta arrogância do ãtman. É da mesma forma que uma flor, são apenas as raízes, as pétalas e as folhas que constituem uma flor, não existe uma flor separada destes fatores. Da mesma maneira, fatores como a forma não se constituem como um ãtman, não existindo ainda um ãtman separado de fatores como a forma. São estas as causas e condições da extinção do conceito de ãtman. Ou seja, em função disto deixa de surgir a arrogância do ãtman. Em função disto, podemos saber que os agregados também são vazios. Ou ainda, o praticante deve extinguir a todas as características, realizando a sua ausência. Caso as características se constituam como uma existência efetiva, de que forma podem ser não pensadas? No momento em que se separam da forma, os caminhos externos afirmam que a forma existe de maneira efetiva, afirmando que ela é apenas esquecida. O praticante ao contemplar a extinção de agregados como a forma descrevem a sua extinção, a isto se chama o adentrar na não característica. Em função disto, podemos saber que fatores como a forma não se constituem como a Verdade última. Ou ainda, a mente do ãtman surge em função dos cinco agregados, devemos então saber que em função da inexistência dos cinco agregados ocorre a extinção da mente do ãtman, em função disto os agregados são vazios. Ou ainda, o Buddha afirma no Sutra do divisor de águas: se uma pessoa contemplar um divisor de águas, ela sabe que não se trata de uma existência efetiva, e é da mesma forma no que se refere aos Bhikkus. Ou ainda, se ela discernir a forma em meio aos agregados, ela sabe que eles estão sujeitos á decomposição de suas características. A sensação é como o vapor, a identificação como um cavalo selvagem, as formações como uma bolha e a consciência como uma miragem. Ou ainda é como segue, as cinco metáforas apontam todas para o sentido do vazio. Por que razão? A visão enxerga o vapor, ao desaparecer ela retorna ao nada. E é da mesma forma no que diz respeito ao vapor. Em função disto, sabemos que os agregados não são uma existência efetiva. Ou ainda, se um discípulo do Buddha sentir uma profunda aversão pelo nascimento e morte, ele pode ver que os dharmas não são nascidos em sua origem por não possuírem atributos próprios. Se eles realizarem a visão da impermanência eles fazem surgir a visão da decomposição das características. Se ocorrer a visão da não natureza, não existe uma outra característica. Ou seja, realizam aqui a insatisfatoriedade da atividade. A realização das três formas da insatisfatoriedade é chamada de emancipação. Devemos saber assim que todos os dharmas são vazios. Ou ainda, o vazio se constitui como o portal da emancipação. Este vazio não se limita ao vazio dos seres sensíveis, ele também implica no vazio dos dharmas. Da mesma forma com que ocorre com o nada no momento do surgimento da visão, também nada existe em sua extinção. Ou seja, podemos saber que a visão passada e futura também é vazia. A visão presente também é vazia em função do discernimento dos quatro elementos. É da forma com que o Buddha ensinou a respeito da visão, a terra é chamada de solidez em meio á carne. Se este vazio for realizado, não existem propriedades. Ou ainda ensina, como todas as formações estão sujeitas á extinção, se diz que elas possuem a natureza da extinção, em função da separação possuem a natureza da separação, em função da extinção, possuem a natureza da extinção. Sabemos em função disto que todas as formações possuem a natureza da extinção. A extinção é ainda chamada de nada. Devemos saber então em todos os sentidos que as formações possuem a natureza do nada. Estas formações existem apenas em função da verdade mundana.